A Ciência Geográfica surgiu no século XIX a partir da influência das escolas alemã e francesa, cujos intelectuais agregavam experiências e reflexões de um mundo dinâmico que tinha na Europa - berço do colonialismo e da Revolução Industrial - o principal cenário de transformações. O registro imagético dessas transformações ocorria por meio de pinturas e fotografias, que permitiam vislumbrar o passado sob a perspectiva dos autores das imagens.
Nos Estados Unidos, os primeiros registros fiéis de imagens com perspectiva de movimento surgiram em 1887 com o trabalho do fotógrafo britânico Eadweard Muybridge que, financiado pelo magnata ferroviário da Califórnia, Leland Stanford, projetou um sistema de captura do movimento de cavalos de corrida para provar a teoria de que o animal ficava totalmente suspenso no ar durante o galope.
A sincronização de várias câmeras fotográficas que disparavam de acordo com a passagem do cavalo com o jóquei foi um sucesso, dando provas conclusivas que Stanford estava correto. Segundo Bussele (1979, p.37) “O trabalho depois desenvolvido por Muybridge preparou o terreno para o advento dos filmes “.
Fonte: Tudo sobre a Fotografia, Micheal Busselle, 1979, p. 37
Da Europa, berço da Geografia, nasce o cinema. No Gran Café Paris, em 28 de dezembro de 1895, os irmãos Auguste e Louis Lumière empreenderam uma nova forma de entreterimento onde foi possível projetar imagens em movimento em uma tela usando sua invenção: o cinematógrafo. Na ocasião, uma sequência de filmes breves (1 min) com cenas do cotidiano como “A saída dos operários da fábrica Lumière” e a “Chegada de um trem à estação” foram apresentados, encantando a multidão e dando início a registros documentais que permitem estudar o passado em vídeo.
La Sortie de l'usine Lumière à Lyon
“A saída dos operários da fábrica Lumière”
A SAÍDAdos operários da fábrica Lumière. Direção: Auguste Lumière e Louis Lumière. Produção: Lumière. França, 1895. 1 vídeo (50 segundos). Publicado pelo canal Cine All. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=CUgvS7i4TDg. Acesso em: 05 de janeiro de 2024.
L'Arrivée d'un train en gare de La Ciotat
“Chegada de um trem à estação”
A CHEGADA de um trem na estação, 1895, L’Arrivée d’um train em gare de La Ciobat. Direção: Auguste Lumière e Louis Lumière. França, 1895. 1 vídeo (50 segundos). Publicado pelo canal Cine All. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=CUgvS7i4TDg. Acesso em: 05 de janeiro de 2024.
O aspecto ficcional do cinema teve como percursor o ilusionista e cineasta francês Georges Méliès que, em posse de uma versão do cinematógrafo, passou a editar as gravações sobrepondo efeitos especiais às cenas teatrais produzidas em estúdio com câmera fixa, como fez no icônico filme Viagem à Lua (1902) .
Fonte: https://gmelies.blogspot.com/2009/10/aparato-das-filmagens.html
Acessado em 05 de janeiro de 2024
Direção: Georges Meliès
França, 1902.(16 min)
Inspirado nos romances "Da Terra à Lua" (1865) e "Ao Redor da Lua" (1870), de Júlio Verne, este filme tem 14 min e conta a história de um grupo de cientistas que visita a Lua à bordo de uma nave/cápsula que é lançada por um canhão. Ao pousar no olho direito do satélite, o grupo comandado pelo pelo professor Barbenfouillis (Georges Méliès) é abordado pelos habitantes locais com quem travam uma batalha e conseguem fugir de volta à Terra, caindo no fundo do mar, mas sendo resgatados e recebidos em Paris com uma grande festa.
VIAGEM à Lua. Direção de Georges Meliés. Paris: Star Film, 1902. 1 vídeo (14min)
Com o passar do tempo, a ficção no cinema fez com que os eventos do século XX fossem registrados e ideais disseminados entre as massas. Não à toa, o carisma de atores como Charles Chaplin provocou reflexões sobre sua época, onde filmes como “Tempos Modernos” (1936) e “O grande ditador” (1940) abordaram temas sensíveis como o mundo do trabalho e o cenário político, mostrarando que há como fazer história e educar a população a partir da sétima arte.
TEMPOS Modernos. Direção: Charles Chaplin. Produção: Charles Chaplin. Estados Unidos: United Artists/ Charles Chaplin Productions. C2005. 1DVD.
O GRANDE Ditador. Direção: Charles Chaplin. Produção: Charles Chaplin. Estados Unidos: Charles Chaplin Productions. c2007. 1DVD.
Sabendo da influência do cinema sobre a opinião popular, o então presidente dos Estados Unidos durante a 2ª Guerra Mundial, Franklin D. Roosevelt, estimulou a produção do filme “Alô Amigos” (1942) onde o personagem Zé Carioca, de Walt Disney, surgiu para cativar o Brasil na Era Vargas (1930-1945) e torna-lo próximo dos EUA no período em que este país buscava aliados na América Latina através de um conjunto de medidas que foi chamado de Política da Boa Vizinhança (1933-1945).
O filme mescla animação e documentário para expressar uma missão de reconhecimento pela América do Sul, dentro da "política da boa vizinhança" Brasil-EUA. O presidente estadunidense Franklin Delano Roosevelt nos Estados Unidos (1933 a 1945) articulou uma aproximação estratégica às nações da América Latina com o objetivo de impedir a influência europeia no continente. A animação possui como ideia central mostrar como os funcionários de Walt Disney (escritores, músicos, desenhistas etc.) entraram em contato com um mundo até então pouco conhecido do "Tio Sam". Dessas experiências surgiriam temas para filmes, incluindo a criação de novos personagens .
Fonte: http://www.historia.seed.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=114 Acessado em 29 de janeiro de 2024.
Durante a Guerra Fria (1945-1991) surgiram personagens que trataram de temores e expectativas sobre a energia nuclear e estes ofereceram diferentes visões sobre o tema, a depender de onde surgiram. No Japão, arrasado pelas bombas de Hiroshima e Nagasaki no fim da 2ª Guerra Mundial, surgiu o Godzilla no filme “Rei dos Monstros” (1954), um dinossauro que despertou após explosão atômica e desenvolveu alta capacidade destrutiva com a exposição à radiação, tornando-se um vilão aos expectadores. Nos Estados Unidos, personagens como Homem Aranha e Hulk surgiram em histórias em quadrinhos em 1962 e migraram para o cinema em 1977, representando pessoas que receberam radiação, mas tornaram-se heróis nos filmes e demais meios de comunicação voltados à cultura de massa (CARVALHO, 2019).
GODZILLA. Direção: Ishiro Honda. Tóquio: Toho, 1954. (96MIN).
O ESPETACULAR Homem Aranha. Direção: Egbert Warnderink Swackhamer. EUA: Columbia Pictures Television, 1977. (92MIN).1 DVD
O INCRÍVEL Hulk. Direção Kenneth Johnson . EUA: Universal Television, 1977 (95min) 1 DVD.
As obras cinematográficas podem documentar o passado real, como os registros dos irmãos Lumiére ou, por meio da ficção, permitem viajar no tempo com a liberdade artística dos envolvidos na sétima arte. Na primeira metade do século XXI, aurora da quarta revolução industrial, vemos emergir o potencial das Inteligências Artificiais, sendo estas acessíveis à muitos e temidas por outros tantos que receiam serem substituídos por softwares em suas atividades laborais. O cinema, entre a segunda metade do século XX e início do século XXI, trouxe à luz as discussões sobre este tema do futuro em filmes de ficção científica que tratavam de distopias com Inteligências Artificiais dominando o trabalho e as emoções humanas . Dentre os exemplos que tratam perspectivas de futuro e abrem espaço a reflexões em sala de aula estão as obras 2001: uma odisseia no espaço(Dir. Stanley Kubrick, 1968) , A.I. Inteligência Artificial (Dir. Steven Spielberg, 2001) e a animação Wall-E (Dir. Andrew Stanton, 2008) .
2001: uma odisséia no espaço
(Stanley Kubrick, 1968 )
Uma estrutura imponente preta fornece uma conexão entre o passado e o futuro nesta adaptação enigmática de um conto reverenciado de ficção científica do autor Arthur C. Clarke. Quando o Dr. Dave Bowman e outros astronautas são enviados para uma misteriosa missão, os chips de seus computadores começam a mostrar um comportamento estranho, levando a um tenso confronto entre homem e máquina que resulta em uma viagem alucinante no espaço e no tempo.
2001 UMA ODISSEIA NO ESPAÇO. Direção: Stanley Kubrick. Produção de Metro-Goldwyn-Meyer. Estados Unidos; Inglaterra. Metro-Goldwyn-Mayer, 1968. DVD (150 min).
Fonte: https://tv.apple.com/br/movie/2001-uma-odisseia-no espaco/umc.cmc.1au04fbnh3q5i2p6sy0ik4rkz. Acessado em 26 de janeiro de 2024.
A.I. Inteligência Artificial
(Steven Spielberg, 2001)
David, o primeiro menino-robô programado para amar, é adotado por um funcionário da Cybertronics e sua esposa. No entanto, uma série de circunstâncias inesperadas dificulta a vida de David. Sem a total aceitação dos humanos ou das máquinas, o menino-robô embarca em uma jornada para descobrir seu verdadeiro mundo.
A.I- Artificial Intelligence. Direção de Steven Spielberg. Roteiro de Stanley Kubrick EUA, 2001. DVD (146 min.).
Fonte: https://tv.apple.com/br/movie/ai-inteligencia-artificial/umc.cmc.5jdh6ll3416xbcstxusd6su93. Acessado em 26 de janeiro de 2024.
WALL-E
(Andrew Stanton, 2008)
Após entulhar a Terra de lixo e poluir a atmosfera com gases tóxicos, a humanidade deixou o planeta e passou a viver em uma gigantesca nave. O plano era que o retiro durasse alguns poucos anos, com robôs sendo deixados para limpar o planeta. WALL-E é o último destes robôs, e sua vida consiste em compactar o lixo existente no planeta. Até que um dia surge repentinamente uma nave, que traz um novo e moderno robô: Eva. A princípio curioso, WALL-E se apaixona e resolve segui-la por toda a galáxia.
WALL-E. Direção e roteiro de Andrew Staton. Disney e Pixar. EUA, 2008 DVD (97 min.)
Considerando que a ficção pode dialogar com os espaços reais, as versões de mundo apresentadas no cinema permitem reflexões sobre a época em que as obras foram produzidas, bem como o alcance geracional que elas e seus conceitos possuem. Além disso, as circunstâncias e elementos apresentados à linguagem o cinema servem como base para análises sobre o que pode ser real ou somente ficção, assim permitindo aos espectadores estudantes fazerem questionamentos sobre aquilo que assistem, sendo não somente sujeitos passivos ao assistir, mas críticos ao avaliar as narrativas.